sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PUPUNHA PELO INSTITUTO AGRONÔMICO DE SÃO PAULO - ESCRIBA VALDEMIR

Valdemir Mota de Menezes coleta informações sobre pupunha e publica aqui, porque ele é produtor de palmito pupunha.
Bactris gasipaes Kunth.

Planta originária da América Latina, com ocorrência no Pará, Amazonas, Acre, Rondônia e Mato Grosso.

Seus frutos são ricos em carboidratos, vitamina A, fibra alimentar, ácidos graxos e minerais, representando assim importante fonte de energia.

A pupunha é adequada à produção de frutos, palmito e ao uso como ornamental.

Trata-se de uma palmeira perene, adaptada às condições de maior insolação, comum na floresta amazônica em suas múltiplas raças. Apresenta perfilhamento e é encontrada em dois tipos básicos: com e sem espinhos no estipe e no pecíolo e ráquis das folhas. É bastante precoce (1,5 a 2 anos para o primeiro corte), com palmito branco-amarelado e mais doce que o das demais espécies. Seu palmito não escurece rapidamente após o corte, mas é igualmente perecível.

Cultivar: a própria espécie. Dar preferência às raças que apresentam plantas sem espinhos no pecíolo/ráquis e no estipe.

Clima e solo: maior desenvolvimento vegetativo em regiões de clima quente e úmido com temperatura média anual de 22ºC e precipitação acima de 1.600mm por ano e bem distribuída. Quando jovem (até 50cm), não tolera geada. Prefere solos de textura média e arenosa e com boa drenagem. Áreas planas ou levemente onduladas são as indicadas, pois facilitam o plantio, a condução, a colheita e mesmo o transporte do palmito.

Propagação: por sementes. Uma pupunheira produz até 8 cachos por ano, com até 350 frutos por cacho. A época de frutificação normal é de janeiro a abril.

Colheita de frutos: para a formação de mudas, colher os frutos maduros, mas não em estádio avançado de maturação, pois a polpa propicia o desenvolvimento de uma série de fungos que podem afetar a semente e prejudicar a germinação.

Preparo das sementes: retirar as sementes dos frutos, tão logo colhidos. Lavá-las e atritá-las sobre superfície áspera (peneira de malha grossa). Em seguida, tratá-las com água sanitária a 50% por 15 minutos. Deixar secar à sombra por um dia e colocá-las para germinar.

Semeadura: em canteiros com areia e serragem curtida (1:1, em volume) ou mistura com terra, com largura de 1m e comprimento desejado. O uso apenas de areia ou serragem curtida exige irrigações mais freqüentes, mas facilita a retirada da plântula por ocasião da repicagem. Para semear, espalhar uma camada uniforme de sementes e cobrí-las com uma camada de 2 a 3cm de areia ou serragem. Para evitar a rega constante fazer a semeadura em canteiros dispostos em viveiro rústico (mais ou menos 50% de sombra inicial).

Regas: regar periodicamente com cuidado de não encharcar o canteiro, evitando o apodrecimento das sementes.

Germinação: após 60 a 120 dias, 70 a 80% das sementes já germinaram. Plântulas germinadas tardiamente (após 8 a 12 meses do início do processo) devem ser descartadas, pois são inferiores em desenvolvimento e produção.

Viveiro: para a repicagem das sementes germinadas utilizar sacos plásticos encanteirados em viveiro rústico. Encher os sacos plásticos pretos (de 15cm de diâmetro por 25cm de altura) com o substrato (vide adubação do substrato) e colocar os sacos em canteiros (10 a 12 sacos por linha) com protetores nas laterais (madeira, bambu, etc.) sob viveiro rústico (50% de sombra). Retirar a sombra progressivamente, à medida que a planta se desenvolve. A muda pronta para transplante (5 a 6 folhas, 20 a 30cm de altura) deve estar completamente adaptada às condições de luz do local definitivo.

Adubação do substrato: usar o solo de boa qualidade, acrescido de uma fonte de matéria curtida (esterco de curral, ou composto de lixo, ou composto de usina de beneficiamento de algodão, ou palha de café) na proporção de 3:1, em volume. Acrescentar calcário para elevar a saturação por bases a 60%, e mais 500g de P2O5 e 100g de K2O por m3 do substrato (terra + esterco). Aplicar 90g de K2O por m3 do substrato já envasado, parcelado em três vezes, a partir do 4º mês, dissolvendo o adubo na água de irrigação.

Repicagem e seleção: iniciar quando a parte aérea tiver de 1 a 2cm. Nessa fase (estádio de “vela”), eliminar plantas com espinhos no pecíolo/ráquis, ou plantá-las em lotes separados das sem espinhos. Descartar as de germinação tardia e transplantar com profundidade em torno de 2cm. Após a repicagem, regar os sacos, repetindo a rega a cada 2 dias em períodos secos, sem excesso, para evitar o aparecimento de fungos.

Tratos culturais em viveiro: controlar as plantas daninhas, manualmente, e observar a ocorrência de pragas e doenças.

Pragas, doenças e outros predadores em viveiro: A principal doença em viveiro é a antracnose, especialmente em épocas mais frias. Recomenda-se diminuir a irrigação. As pragas mais comuns em viveiro são gafanhotos, brocas e ácaros, estes em viveiro mal manejado e com pouca aeração. Animais silvestres tais como capivaras, pacas e veados podem comer as plantas enviveiradas. Nesse caso, deve-se cercar a área do viveiro. Roedores se alimentam das sementes.

Preparo da área: com critério, especialmente em solos de estrutura pesada ou compactados por usos anteriores. Aração e gradagem são recomendadas, mas quando não for possível, abrir covas nas dimensões de 30 x 30 x 30cm ou mesmo de 40 x 40 x 40cm. Usar áreas a pleno sol: a pupunha não requer sombreamento, nem mesmo inicial. Em regiões com déficit hídrico, ou quando do plantio de mudas não aclimatadas pode-se usar um sombreamento temporário proporcionado por guandu, tefrósia ou crotalária, em linhas intercaladas no mesmo espaçamento da pupunha.

Espaçamento: para a produção de palmito: 2,5 x 1,0m, 2,0 x 1,0m, 1,5 x 1,0m ou 2,0 x 1,0 x 1,0m (linhas duplas). Para a produção de sementes: 8x 4m.

Adubação de plantio: antes do plantio, aplicar calcário dolomítico para elevar a saturação por bases a 50%. Distribuir, se possível, 5 a 10 t/ha de esterco de curral ou composto de lixo curtido, no sulco de plantio ou na cova, misturado com o adubo mineral fosfatado e potássico. De acordo com a análise de solo, aplicar 70 a 140 kg/ha de P2O2 e até 60 kg/ha de K2O. Aplicar em cobertura, 30 dias após o transplante, ao redor da muda, 20 kg/ha de N, repetindo esta dose mais duas vezes, a cada 2 meses (dispensar essa adubação nitrogenada, caso tenha sido usado o esterco ou o composto.

Adubação de produção: De acordo com a produtividade esperada (1 a 4 t/ha de matéria fresca de palmito) e com a análise de solo, aplicar por ano, 110 a 300 kg/ha de N, 0 a 80 kg/ha de P2O5, 20 a 260 kg/ha de K2O, 20 a 50 kg/ha de S e 1 a 2 kg/ha de B. A partir do 4º ano, reduzir as doses de N em 30%.

Tratos culturais: não capinar, apenas roçar, para não lesar o sistema radicular dessas palmeiras que é bastante superficial. Usar cobertura vegetal, tal como centrosema e caupi.

Pragas no campo: pode ocorrer o ataque de uma coleóptero grande do gênero Rhyncophorus e outros menores do gênero Strategus. Controlar esses insetos através de iscas feitas com tronco seccionado de bananeira sobre o qual se espalha uma mistura de melado de cana (atrativo) e um inseticida específico. Há relatos do ataque de cupins às plantas jovens de pupunha em regiões bastante infectadas com esses insetos.

Colheita: entre 18 e 36 meses do plantio dependendo do solo, clima, espaçamento e adubação. Aos 18 meses, o palmito terá entre 150 e 300 gramas de peso. Aos três anos, pode-se colher plantas até com 500 gramas de palmito; não é aconselhável colher a idades superiores a essa, pois o maior diâmetro do palmito trará problemas à industrialização por não corresponder, eventualmente, à capacidade da embalagem (lata ou vidro). Escalonar a colheita com base no diâmetro da planta (a 50cm de altura): entre 10 e 14cm é o indicado. Recomenda-se corte alto (50 a 80cm), para reciclar os nutrientes para os perfilhos na touceira. O corte do palmito pode ser feito durante o ano todo, evitar, porém, o corte na época seca, em função de seu menor peso.

Periodicidade de colheita: é bastante variável, dependendo do material genético, clima, solo e técnicas de exploração e cultivo. Nas condições brasileiras e para o tipo de palmito de maior aceitação no mercado (acima de 2,5cm de diâmetro), é esperado colher, no máximo, 2 palmitos por planta ao ano, sendo mais sensato fazer apenas uma colheita anual.

Desbaste de perfilhos: por ocasião da colheita, fazer o desbaste dos perfilhos em excesso, deixando 4 a 6 por planta, com altura entre 25 a 30cm. Os perfilhos pequenos, abaixo dessas medidas, não são cortados. Os perfilhos grandes a manter devem estar bem distribuídos na touceira e ser escalonados para propiciar colheitas periódicas. Quando o objetivo é produção de frutos e/ou sementes, o manejo de perfilhos não é feito. Deixar a planta crescer sem desbastes, cortando posteriormente alguns estipes em excesso na touceira e utilizando-os para a produção de palmito.

Produtividade: consegue-se uma produção de palmito de primeira em torno de 1,3 a 1,8 toneladas por hectare ao ano, iniciando-se a colheita 18 meses após o plantio. Igual produção é obtida da parte basal (palmito caulinar) e do ápice (“picadinho”).


Fonte: Boletim, IAC, 200, 1998.

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