Descobrindo o Bambu…
Desde a infância que conheço essa planta, pois no interior do Rio Grande do Sul, as propriedades rurais normalmente possuem alguma touceira de bambu.
Porém, praticamente não há manejo e costuma ser sub-utilizado, pois sua utilização é basicamente para atividades muito simples como vara de pescar, vara para colher frutos em árvores ou segurar o varal de roupas etc.
Pautada nessa percepção de uso do bambu para finalidades tipo “quebra-galhos” eu desconhecia a enorme diversidade de espécies existentes e as infinitas possibilidades de uso do mesmo!
No ano passado, algumas experiências revolucionaram minha visão acerca do bambu. Uma delas foi assitir a uma palestra com Daniel Malaguti, apresentando suas pesquisas no Laboratório de Investigação em Living Design da PUC-Rio. Pude conhecer projetos maravilhosos utilizando o bambu em habitações e diversos exemplos de geodésicas, tema de seu mestrado (http://yvypora.wordpress.com/2009/09/15/geodesica-de-base-quadrada-o-caminho/#more-744). A palestra foi também a oportunidade para conhecer bambuzeiros como o Rodrigo Primavera(http://bambuessencial.wordpress.com/about/) um permacultor e bambuzeiro que reside em Florianópolis em uma casa que é uma verdadeira obra de arte. A casa, mobilia, utensílios, enfim quase tudo em bambu!
Esses contatos foram mobilizadores, a partir disso minha visão sobre o bambu mudou completamente e compreendi o quanto essa planta é importante para a sustentabilidade.
Com o interesse aguçado, começaram minhas aprendizagens…
Em Yvyporã conheci touceiras das espécies Dendrocalamos Giganteus e Guadua, plantados em torno de 6 anos atrás. Fiquei deslumbrada com a beleza dos bambus e com o diâmetro deles!
Também fiquei impressionada com minha ignorância acerca dessa planta. O Jorge me passou diversas informações e tudo parecia “novo” para mim.
O bambu é uma gramínea, ou seja, mesma família da grama. Assim, é uma planta de crescimento muito fácil e rápido, necessitando em média de 3 a 6 meses para que um broto atinja sua altura máxima.
Os brotos já nascem com sua largura final. Conforme mencionei eu não prestava muita atenção para as touceiras de bambu que conhecia no RS. Assim, quando ocasionalmente as visitava eu costumava ver bambus finos e outros mais grossos, por isso achava que um bambu “engrossava” com o tempo. Porém, não é assim que funciona…descobri que as diferentes de largura são devido à maturidade da touceira. A cada nova geração de brotos o diâmetro deles vai aumentando, até atingirem o tamanho máximo (a partir do 7 ou 8 ano).
Ainda há muitas aprendizagens para compartilhar sobre o bambu e exatamente por serem muitas vou deixar para futuras postagens. Assim, finalizarei esta mensagem com uma citação do prefácio do Livro Bambu de Corpo e Alma (http://books.google.com/books?id=8UmDNAAACAAJ&dq=bambu+de+corpo+e+alma&hl=pt-BR&cd=1), elucidando as infinitas possibilidades de uso do bambu:
“Um homem pode acomodar-se em uma casa de bambu sob um teto de bambu, em uma cadeira de bambu a uma mesa de bambu, com um chapéu de bambu em sua cabeça e sandálias de bambu em seus pés. Ele pode, ao mesmo tempo, ter em suas mãos uma tigela de bambu, e em outra mão pauzinhos de bambu, e comer brotos de bambu. Quando ele terminar sua refeição, que foi cozida em fogo de bambu, a mesa pode ser lavado com um tecido de bambu, e ele pode abanar-se a si próprio com um leque de bambu, tirar uma siesta em uma cama de bambu, deitado sobre uma esteira de bambu. Seu filho pode repousar num berço de bambu, brincando com um brinquedo de bambu. Ao levantar-se ele fumaria um cachimbo de bambu e, com uma caneta de bambu, escreveria em papel de bambu, ou transportaria suas coisas em uma cesta de bambu suspensa por uma vara de bambu, com um guarda-chuva de bambu sobre sua cabeça. Ele pode então fazer uma caminhada sobre uma ponte suspensa de bambu, beber água de uma concha de bambu, e coçar-se com uma raspadeira de bambu.”
(Retirado de GEIL, Willian Edgar. A Yankee on the Yangtze. London: Hodder and Stoughton, 1904. In Yangtze Patrol. Kemp Tolley. Annapolis: U.S. Naval Institute Press, 1971. P. 256)
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Takenoko
Estamos na época (novamente) do broto de bambu. Dessa vez, do tipo gigante. Gigante mesmo, conforme a foto acima (com a minha mãe servindo de modelo e de medida). Grande, carnudo, macio e muito apreciado pela comunidade local. Com tanto broto de bambu, perguntei como fazer para conserva-lo. A maneira mais prática sugerida pelos parentes foi de salga, prensa e conservação em salmoura, depois de retirado todo o amargor. Ou seja, praticamente o menma (broto de bambu salgado, comercializado em saquinhos, em mercados japoneses). Claro que antes de usa-lo, essa conserva passaria por uma dessalga, antes de ganhar sabor de shoyu e caldo.
Mas, para quem não mora no interior e não conhece ninguém que tenha um bambuzal, o melhor mesmo é ir à feira comprar.
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BROTO DE BAMBU - Bambusa vulgaris - Planta Venenosa - 57
Broto
Bambus
BROTO DE BAMBU
FAMÍLIA:Poaceae
NOME CIENTÍFICO:Bambusa vulgaris
NOME POPULAR
Bambu, bambus (alemão), bambú (espanhol e italiano), bambou (francês) e bamboo (inglês).
PARTE TÓXICA: Broto
PRINCÍPIO ATIVO: Glicosídios Cianogênicos (taxiphyllin)
SINTOMATOLOGIA
Quadro Clínico: Liberam ácido cianídrico causando anóxia celular. Distúrbios gastrointestinais: náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia, acidose metabólica, hálito de amêndoas amargas.
Distúrbios neurológicos: sonolência, torpor,convulsões e coma.
Crise típica: opistótono, trismas e midríase.
Distúrbios respiratórios: dispnéia, apnéia, secreções, cianose, distúrbios cárdiocirculatórios.
Hipotensão na fase final. Sangue vermelho rutilante.
TRATAMENTO
Tratamento precoce. Exames laboratoriais para detecção de tiocianatos na saliva ou cianeto no sangue.
Nitrito de Amila por via inalatória 30seg a cada 2min: formação de cianometahemoglobina (atóxica).
Nitrito de Sódio 3% - 10ml EV (adultos), se neces. tratar com Azul de Metileno + Vit C.
Hipossulfito de Sódio 25% - 25 a 50ml EV (adultos), 1ml/Kg (crianças).
Dão origem a tiocianatos.O2.Hidroxicobalamina 15000mcg EV-formação de ciano-Cobalamina (atóxica). Esvaziamento gástrico.
DESCRIÇÃO BOTÂNICA
Nativos da Ásia tropical e sub-tropical, os bambus crescem em todas as latitudes, desde os trópicos atè às regiões frias e desde o nível do mar até 3-4000 m de altitude, preferindo "habitats" húmidos e quentes. Os bambus são gramíneas perenes pertencentes á sub-família Bambusoides, da família Poaceae. Há cerca de 90 géneros e 1000 espécies de bambus.
RECOMENDAÇÃO
O glicosídeo cianogênicos em bambu é taxiphyllin é incomum entre os compostos de 60 ou mais espécies conhecidas. O cianeto de bambu é taxiphyllin que é uma p-hidroxilado Mandelo-triglochinin nitrílica e, portanto, um dos poucos destes compostos cianogênicos que se decompõe rapidamente quando colocada em água fervente.
Comestível (após fervura)
O broto do bambu se torna comestível por causa desta instabilidade (Nahrstedt 1993). Ferreira et al (1995) observaram que brotos de bambu fervidos por 20 minutos a 98º C , remove quase 70% do HCN, enquanto que em temperaturas superiores e em intervalos de tempo mais longos, remove progressivamente até 96%.
http://ltc.nutes.ufrj.brwww.inbar.int/publication/pubdownload.as
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Takenoko – broto de bambu (竹の子)
Produto muito apreciado na culinária oriental, é de fácil preparo e muito saboroso. Versátil, aceita temperos variados como os abrasileirados ou os tradicionais temperos agridoces do oriente. Assemelha-se ao palmito.
Modo de preparo
Primeiramente é preciso algum cuidado na retirada dos brotos. Deve-se tirar os brotos jovens, ainda tenros, pois a parte comestível é a fibra ainda mole, branca. Os brotos grandes com mais de 70 cm de altura já estão passados, com as fibras duras. Quanto mais escuro estiver o broto, aproximando-se da cor do bambu adulto, mais maduro ele estará (verde ou amarelo) e consequentemente, menos macio. O bambu gigante conserva sua maciez mesmo aos 70 cm ou mais, assim como o bambu mais fino amadurece com menor comprimento, devendo ser colhido até 40 cm. Um bom método para colheita é quebrar os brotos na base, empurrando-os com o pé. Alguns brotos são dotados de espinhos que se assemelham a penugem. É preciso cuidado, pois em contato com a pele provocam coceiras. Tiradas as cascas, deve-se retirar a parte comestível. Um bom teste é desprezar a parte que requeira força para se cortar com faca afiada. A seguir tira-se o amargor cozinhando-se em água bastante salgada (mais ou menos 5% de sal do peso dos brotos) por cerca de dez minutos após levantar fervura, ou 5 minutos em panela de pressão. Deve-se então dessalgar os brotos, como se faz com o bacalhau, renovando-se a água duas a três vezes. Pode-se usar também bicarbonato de sódio como na receita abaixo.
Bom apetite!!!
Receita: Takenoko com carne suína
Receita retirada do Tudo Gostoso.
Ingredientes
1 kg de broto de bambu;
2 colheres de café de bicarbonato de sódio;
500 g de carne suína ou outra que preferir;
Temperos a gosto.
Modo de preparo
1. Corte o miolo do broto de bambu em rodelinhas;
2. Coloque em uma panela para cozinhar, quando levantar fervura, colocar 2 colheres de bicarbonato de sódio;
3. Deixe por alguns minutos e desligue. O bicarbonato de sódio tira o amargo do broto de bambu;
4. Escorra a água e renove-a trocando algumas vezes no dia;
5. Refogue a carne picadinha com todos os temperos a gosto;
6. Coloque o broto de bambu e cozinhe até pegar o gosto.
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