domingo, 31 de janeiro de 2010

GOIABA

Goiaba
Contrato sem risco
Indústria de goiabada estimula plantio da fruta no interior paulista com entrega de mudas, orientação técnica e garantia de compra
Por Inês Figueiró
Na região central do interior paulista, dominada por canaviais e pomares de laranjas, uma outra fruta vem conquistando espaço. Longe de bater as outras duas culturas em extensão, a goiaba ganha terreno nas propriedades e garante dinheiro no bolso dos produtores, maltratados por anos seguidos de baixos preços na venda de suas colheitas de cana e cítricos. João Crigolli, por exemplo, um descendente de italiano de 73 anos, todos eles vividos na região, está substituindo 20 hectares de cana pela fruta tropical. Sua primeira colheita está em andamento - um pé de goiaba leva cerca de 14 meses para começar a produzir - e ele garante que, se o resultado for bom, irá erradicar boa parte da área de canaviais para expandir o pomar.

O agricultor está desgostoso com a cana, pois, além de ter 60 mil reais de pagamento atrasado para receber da usina, amargou prejuízo na última safra. Na ponta do lápis, a receita empatou com as despesas e Crigolli acabou tendo que vender um de seus dois carros para pagar as contas.
Mas ele está otimista com relação ao recebimento do dinheiro devido pela usina e já tem planos de investi-lo: quer irrigar o pomar de goiaba. Nos seus três sítios, em São Lourenço do Turvo, distrito de Matão, a 350 quilômetros da capital do Estado, o produtor tem 4,5 mil pés de goiaba em produção e 880 recém-plantados.


O ingresso de João Crigolli na produção da fruta se deve à presença de uma indústria de conservas na vila onde mora. "Estava procurando uma alternativa para a cana e aí o pessoal apareceu sugerindo que eu plantasse goiaba. Entrei de gaiato no navio", brinca, explicando que não conhecia quase nada da cultura. Mas, ao que tudo indica, ele pegou rápido os procedimentos básicos, pois já arrisca palpites no manejo das árvores e no sistema de formação dos pomares. Seu João é um dos 175 produtores da região que tem contrato de garantia de compra assinado com a indústria de alimentos Predilecta.
Toda a sua produção é entregue à empresa. Em contrapartida, assim como os demais produtores, ele recebe orientação técnica e, quando necessário, mudas de variedades industriais. No caso das mudas, a distribuição não é gratuita. O pagamento é feito em frutas: para cada muda recebida, o produtor entrega uma caixa de 20 quilos de goiaba na primeira colheita. "É um investimento que se paga já na primeira safra", afirma o responsável pela divisão de goiaba da Predilecta, Benealdo de Barros.

A parceria foi a forma encontrada pela empresa para garantir fornecimento de matéria-prima o ano inteiro. Para isso, a Predilecta contou também com a ajuda do destino. Quando começou a operar, em 1990, comprava goiaba da safra e no restante do ano se abastecia das sobras da fruta de mesa que encontrava no mercado. Hoje consegue comprar goiaba de variedades industriais - mais carnudas e com menos sementes - durante o ano inteiro graças à adoção de um sistema de podas que garante duas safras por ano e o escalonamento da produção.
Essa possibilidade foi descoberta por acidente no trabalho de embalagem das frutas. Os produtores colhiam a goiaba na safra e quebravam alguns galhos para colocar dentro das caixas, como proteção para as frutas. "As goiabeiras começavam a brotar nos locais onde haviam sido quebradas", relembra Barros. A partir daí, esse sistema de poda vem sendo adotado pelos parceiros da indústria e também por outros produtores da região. Mas o técnico garante que não foi fácil convencer os produtores dos benefícios da poda. "Eles se assustavam ao ver suas árvores vazias, peladas", conta.




O produtor Nelson Roberto Barbieri, que, junto com o pai, o primo e o tio, se dedica ao cultivo de goiaba em seu sítio no município de Jaboticabal, confirma o temor. Ele começou a entregar a fruta para a Predilecta em 1996 e um ano depois optou pela poda e viu sua produção cair drasticamente. A colheita, que em 1997 tinha alcançado 1,2 mil toneladas, caiu no ano seguinte para 800 toneladas.

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