O escriba Valdemir Mota de Menezes e sua filha Valkirya estão colhendo palmito pupunha para comer no almoço.
PALMITO
A pupunha é uma palmeira nativa da região Amazônica e que é consumida na forma de frutos e de palmito, desde épocas pré-colombianas. É uma palmeira de clima tropical, de rápido crescimento e que, quando adulta, pode atingir mais de 20 metros de altura em poucos anos. Por essa razão, é usada também como uma palmeira ornamental.
Nos últimos anos, a importância dessa palmeira cresceu consideravelmente em nosso país, por ser uma excelente alternativa de cultivo para a agricultura.
O consumo dos frutos da pupunheira, cozidos em água e sal, é tradicional na região Amazônica, embora a produção venha de plantas nativas, mas suficientes para atender à demanda local. A partir dos anos 90, nos estados da região Sudeste e Centro-Oeste, teve início o interesse, por parte dos agricultores, no cultivo da pupunha, não para a produção de frutos, mas sim para fornecer palmito. O palmito é formado na parte apical as plantas, pelas raquis das folhas jovens. É uma iguaria valiosa, de grande aceitação no mercado, onde consegue preços elevados.
Palmeiras que produzem palmito
Atualmente, 95% do palmito produzido é cortado do Açaizero,outra palmeira nativa da Amazônia tropical, sobretudo na região do estuário do Rio Amazonas. Antes da década de 70, entretanto, o palmito era cortado de uma outra palmeira, a Juçara, nativa da Mata Atlântica. O corte indiscriminado de palmeiras nativas, leva, invariavelmente, ao decréscimo das populações naturais. Com o passar do tempo, palmeiras que ainda não florescem são cortadas. Nesse momento, o risco de extinção aparece, como já ocorreu com a Juçara e deve ocorrer, em breve, com o Açaí. É por essa razão que algumas pessoas começaram a pensar em outras palmeiras que pudessem produzir, de forma econômica e ecológica, palmito em escala industrial. Os especialistas em palmeiras chegaram à conclusão de que a palmeira que reunia maior número de pontos favoráveis era a pupunha.
As vantagens de se produzir palmito de pupunha
As principais vantagens para o plantio da pupunha, visando a produção de palmito, são:
a.precocidade: o primeiro corte ocorre entre 18 a 24 meses após o plantio no campo;
b.perfilhamento: a pupunha apresenta brotações de novas plantas, junto à planta mãe, permitindo que se possa repetir os cortes nos anos seguintes, sem necessidade de replantio da área.
c.qualidade do palmito: o palmito de pupunha tem um comprimento ao redor de 40 cm e diâmetro de 1,5 - 4 cm e é muito macio e saboroso, não tendo problemas de aceitação pelo mercado;
d.lucratividade: adequadamente plantado, um hectare produz entre 5.000 a 12.000 palmitos por ano, dependendo do número de perfilhos que se deixa após o corte da planta mãe e do diâmetro do palmito que se produz;
e.segurança para o produtor: o palmito não estraga, já que o agricultor pode deixá-lo no pé ou, então, envasá-lo, guardando os vidros e realizando as vendas quando achar conveniente. Não é como outros produtos, como hortaliças e frutas em geral, que amadurecem e precisam ser colhidos e que, quando colhidos, devem ser rapidamente vendidos e consumidos.
f.vantagens ecológicas: a pupunha deve ser produzida em cultura a pleno sol, em áreas agrícolas tradicionais, de forma que se passa a produzir palmito de excelente qualidade sem nenhum dano às florestas nativas. essa é uma característica d grande apelo comercial, sobretudo para exploração do palmito, como um produto ecológico.
Condições para se produzir palmito de pupunha
O cultivo da pupunha para produção de palmito apresenta também, alguns requisitos básicos. Como trata-se de uma planta da floresta tropical, ela é muito exigente em água. Para regiões com mais do que dois meses seguidos de déficit hídrico, é necessária a irrigação. Entretanto, mais do que a quantidade de água, é importante a sua distribuição ao longo do ano. Pela nossa experiência, são necessários no mínimo 1300 - 1400 mm de água, bm distribuídos ao longo do ano, para que as plantas cresçam sem problemas. Outra limitação importante é atitude do local, que não deve ser superior a 850 m, provavelmente influenciada, em grande parte, pelas baixas temperaturas noturnas das regiões mais altas. De maneira geral, a pupunha prefere solos mais arenosos e friáveis do que aqueles solos pesados e muito argilosos. Embora exigente em água, a pupunheira não vai bem em solos encharcados, exigindo local com boa drenagem.
Plantio da cultura no campo
Deve-se evitar fazer o transplantio definitivo para o campo de mudas novas. O ideal é que elas tenham seis folhas e cerca de 40 cm de altura. O transplante deve ser efetuado em dias chuvosos ou nublados e com boa umidade no solo. Deve-se evitar aqueles dias claros e quentes, já que as plantas vão sentir mais o transplante. A despeito de todos os cuidados, as plantas sentem o transplante para o campo, ficando com as folhas amareladas e sentidas. Por cerca de seis meses elas praticamente quase não crescem. é importante que o agricultor saiba disso para que não desanime. É assim mesmo; e, passado esse período, elas começam a crescer lentamente. Mas o grande crescimento ocorre após os 10 - 12 meses do plantio no campo.
Quando se planta alguma cultura intercalar, nas entre linhas, o estabelecimento inicial da pupunha é melhor. Parece que, quando se planta apenas a pupunha, ocorre maior incidencia de doenças foliares e morte de plantas, sobretudo nos meses de abril a setembro, no planalto de são Paulo. Isso pode ser por causa da presença de ventos frios que prejudicam as plantas e aumentam a perda de água. Uma linha intercalar ajuda a fornecer um certo sombreamento inicial e protege as plantas de pupunha dos ventos.
Deve-se dar preferência por alguma leguminosa, como crotalária, feijão de porco, ou mesmo outras culturas. Entretanto, essa é uma questão delicada, que exige orientação técnica.
Espaçamento da cultura
O espaçamento entre as plantas no campo varia ao redor de 2 m x 1 m. Esse espaçamento, comporta 5.000 plantas por hectare e é o que garante maior profundidade de espaçamento. Mas outros espaçamentos também podem ser utilizados. Por exemplo: 2 m x 1,25 m, o que corresponde a 4.000 plantas/ha. Com esse espaçamento, embora haja uma menor produção de palmito, o retorno do investimento do plantio é mais rápido e o lucro líquido é, praticamente, equivalente ao que se consegue com 5.000 plantas/ha (uma diferença inferior a 5%). Há, ainda, outras alternativas, as quais podem ser viáveis para os pequenos produtores. Por exemplo: utilizando espaçamento de 3 m entre linhas de 1 m dentro da linha. No meio da entrelinha foi plantado maracujá, ou a pupunha foi plantada com a cultura de maracujá em produção. Nesse caso, há a possibilidade de se obter até duas safras de maracujá, antes do primeiro corte do palmito, o que é vital para o pequeno produtor rural, que não fica entre 18 a 24 meses sem nenhuma renda na área e tendo que arcar com todos os custos de implantação e custeio da cultura nesse período.
ESPAÇAMENTO
PLANTAS/HECTARE
1,5 x 1,5 m
4.445
2,0 x 1,5 m
3.333
2,0 x 1,25 m
4.000
2,0 x 1,0 m
5.000
2,5 x 1,0 m
4.000
3,0 x 1,0 m
3.333
Cuidados antes do plantio
Antes do plantio no campo, o agricultor deve tomar alguns cuidados: limpar completamente a área da presença de matos, corrigir o solo com calcário e realizar uma adubação com fósforo. A pupunha não suporta competição com mato, sobretudo braquiária. Em áreas de pastagens, é recomendável que se faça uma série de gradagens, seguida de uma cultura anual, com soja, por exemplo, para um perfeito controle da braquiária, usando-se herbicidas. Para o plantio da pupunha, deve-se, previamente, fazer uma calagem, elevando-se o pH para 5,0 - 5,5 e a saturação de bases para 60%. antes do plantio, deve-se, na medida do possível, aplicar, nas covas, matéria orgânica.
Adubação
Após o pegamento das mudas, deve-se dar início às adubações com nitrogênio e potássio, em cobertura. Uma adubação razoável seria entre 300 a 400 g/planta de 20-5-20, fracionada o maoir número de vezes possível. Quando se faz irrigação, deve-se realizar adubação em cobertura a cada mês, aplicando-se entre 30 a 40 g/planta. As plantas de pupunha também necessitam do fornecimento de cálcio, magnésio, enxofre e boro.
O sistema radicular da planta da pupunha, no ponto do corte, é bastante superficial: mais de 80% das raízes ficam em torno de 40 cm da planta e até uma profundidade de 40 cm. Por essa razão é que ela não suporta a competição com mato, sobretudo gramíneas.
Uma solução, durante o primeiro ano da cultura no campo, é manter, na entre-linha, alguma leuminosa não trepadora. Além de se evitar o mato e a erosão na terra nua, ganha-se a incorporação de nitrogênio pela leguminosa.
O corte do palmito
O corte das plantas deve ser realizado quando elas atingem um diâmetro, perto do solo, entre 9 a 15 cm. De início, deve-se cortar algumas plantas para que se aprenda onde fica, exatamente, o palmito. O primeiro corte é o menos produtivo: corta-se apenas a planta mãe e o palmito tende a ser mais curto e de forma um pouco cônica. A partir do ano seguinte é que a cultura vai mostrar todo o seu potencial produtivo, quando se cortam os perfilhos. A partir do primeiro corte (18 - 24 meses), entra-se numa fase de cortes sucessivos e anuais. O número de palmitos a serem cortados, por planta/ano, varia de 1 a 3, em função do número de perfilhos que se deixa para o ano seguinte e do diâmetro do corte. Essa é uma decisão que cada produtor tem que tomar em função do mercado que ele pretende atingir. Antes do corte do palmito, os perfilhos devem ser preparados, eliminando-se os mais fracos e cortando-se as folhas daqueles que vão permanecer. O corte das folhas dos perfilhos diminui o stress causado pelo sol a apressa o seu crescimento. Numa lavoura bem cuidada, que não sofra a falta de água e que seja adequadamente adubada, praticamente não aparecem doenças. Geralmente, as doenças são um sinal de desiquilíbrio nutricional, causado pela falta de adubação ou pela deficiência hídrica que impede a absorção dos nutrientes.
Viabilidade econômica
A cultura da pupunha apresenta uma excelente viabilidade econômica. Entretanto, o custo de implantaçào é elevado, situando-se ao redor de R$ 4.000,00 por hectare. O custeio anual varia de R$ 500,00 a R$800,00 por hectare, incluindo: controle de mato, adubos e corretivos, energia e mão-de-obra para corte e transporte dos palmitos.
Insumos para 1 ha de pupunha
Pré-Plantio:
- Calagem: pH 5,0 - 5,5
- Saturação de Bases: 60%
- Fofatagem: 100g a 200g por planta
0,2 Kg x 5.000 PL = 1.000 Kg de SS
- Herbicida: quatro a seis litros (função do mato)
Plantio - Primeiro Ano:
- Adubação: 30g/PL. Mês de 20-5-20 + Micro + Ca + Mg + S
0,03 Kg x 12 meses x 5.000 PL = 1.800 Kg
- Herbicidas: 8-12 litros/ano
Plantio - Segundo Ano:
- Adubação: 1.800 Kg de fórmula
- Fósforo: 1.000 Kg
- Herbicidas: 2 a 6 litros/ano